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Nos Bastidores da Guerra na Ucrânia: Espionagem que Parece Saída de um Filme

Enquanto a triste guerra entre a Ucrânia e a Rússia continua causando perdas de vidas no campo de batalha, há uma outra disputa ocorrendo nas sombras.

Esta batalha secreta envolve agentes duplos, envenenamentos, traições e assassinatos, elementos que fazem parte do conflito entre as agências de espionagem russa e ucraniana, que são herdeiras da antiga KGB soviética.

Um ex-agente da CIA, em entrevista ao jornal The Washington Post, comparou essa nova era de espionagem com os tempos da Mossad nos anos 1970, referindo-se à série de assassinatos atribuídos à agência israelense.

Essas operações de inteligência, por um lado, representam riscos para a Rússia. No entanto, se a Ucrânia continuar a realizar operações de espionagem mais ousadas, incluindo ações contra russos em países terceiros, isso pode criar atritos com outros parceiros internacionais.

A agência de inteligência ucraniana continua a prender ou mesmo a assassinar proeminentes apoiadores russos. Recentemente, na capital russa, Moscou, o ex-deputado ucraniano pró-Rússia Illia Kyva foi encontrado morto com um ferimento na cabeça. Kyva era conhecido por suas fortes ligações com o Kremlin e havia pedido asilo político a Putin, além de sugerir um ataque nuclear à Ucrânia.

Uma fonte anônima da organização confirmou à Reuters que a eliminação de Illia Kyva foi uma missão especial realizada pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU).

No mesmo dia, em Kiev, as agências de inteligência ucranianas conseguiram explodir o carro de Oleh Popov, um criminoso de guerra que fazia parte do Conselho Popular da República Popular de Lugansk, uma entidade separatista. Popov era responsável por comandar milícias armadas e estava envolvido em atos violentos contra ucranianos.

Quase dois anos após o início da invasão russa na Ucrânia, essas operações secretas já resultaram na morte de mais de 20 oficiais russos de alto escalão designados para governar as regiões ocupadas. Se incluirmos chefes de polícia, líderes de milícias armadas de Donetsk e Lugansk e agentes do FSB (serviço secreto russo), o número sobe para mais de 200.

As táticas variam, mas incluem o uso de explosivos sob os assentos dos carros, envenenamentos e tiros à queima-roupa. Apesar dos esforços russos em implantar unidades de contraterrorismo, ataques desse tipo continuam a ocorrer regularmente.

No entanto, a ação da inteligência ucraniana não se limita ao território ucraniano. Em 2022, espiões ucranianos conseguiram entrar no território russo e destruir o veículo em que circulava Darya Dugina, filha de Alexander Dugin, um filósofo russo conhecido por suas opiniões favoráveis à Rússia. A bomba era destinada a seu pai, mas ele mudou de veículo no último minuto. Autoridades russas atribuíram o ataque a uma agente ucraniana que entrou no país acompanhada por sua filha de 12 anos.

Além disso, essas operações incluíram a persuasão de terceiros para realizar ações sujas. Um exemplo foi a explosão em um café em São Petersburgo, onde um blogueiro militar russo que frequentemente incitava à violência contra ucranianos foi morto por uma jovem ativista antiguerra russa que estava agindo sob orientação ucraniana.

A Diretoria Principal de Inteligência (GUR) da Ucrânia, liderada pelo tenente-general Kyrylo Budanov, coordena muitas dessas operações delicadas. Budanov é um dos principais alvos do Kremlin, e seu papel é crucial na realização dessas operações secretas.

Um exemplo notável foi o ataque à principal base aérea militar russa, que abrigava bombardeiros capazes de lançar armas nucleares. Dois ataques com drones causaram sérios danos às aeronaves e mataram vários oficiais russos da Força Aérea.

Esses ataques foram realizados por uma rede de agentes e simpatizantes da Ucrânia dentro do território russo. Isso demonstra a capacidade da inteligência ucraniana de operar no coração da Rússia.

Além disso, a Ucrânia expandiu suas operações de sabotagem no território russo. Explosões afetaram a linha de trem que liga a Rússia à China, um importante parceiro da Rússia para contornar as sanções. Outro ato notório foi a explosão da ponte de Kerch, uma estrutura vital que liga a Rússia à Crimeia ocupada pela Rússia. Esta missão envolveu a contrabando de explosivos para o território russo e sua posterior detonação.

No entanto, o Grupo de Reconhecimento Principal da Rússia (GRU), uma das principais agências de inteligência do mundo, é um adversário formidável. Essa agência não se reporta diretamente a Vladimir Putin, mas sim à liderança militar e ao ministro da Defesa. O GRU tem uma reputação manchada devido aos primeiros fracassos na invasão russa, mas ainda é uma ameaça significativa para a Ucrânia.

A Ucrânia também enfrenta uma considerável infiltração russa em seu território, com milhares de pessoas sendo investigadas por alta traição. Além disso, muitos agentes secretos russos atuam para obter informações sobre instalações militares e outras informações sensíveis.

Além do inimigo externo, a Ucrânia lida com inimigos internos, incluindo traidores que trabalham para os russos. Isso cria desafios adicionais para o país.

Em meio a essas operações de espionagem, divisões começam a surgir na sociedade ucraniana após 20 meses de guerra, milhares de mortos e uma contraofensiva que não atingiu seus objetivos. O Kremlin parece estar ativando uma rede adormecida de espiões para semear o descontentamento na população ucraniana e criar desconfiança entre a liderança política e militar, na esperança de instigar um golpe de Estado.

Esta é uma visão de como a guerra na Ucrânia não se limita apenas ao campo de batalha, mas também envolve uma complexa e perigosa batalha de espionagem que afeta profundamente a sociedade e a segurança de ambos os lados do conflito.

Luiz Gomes

Luiz Gomes

Investigador profissional, Diretor de ensino da Academia de Inteligência Privada

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